O cigarro e a em

É público que o cigarro faz mal para a saúde e pode causar inúmeras doenças crônicas e diferentes tipos de câncer1. Mas você sabe como o fumo impacta a esclerose múltipla?

Dados de pesquisas recentes demonstraram que pessoas que fumam têm um risco 40 a 80% maior de desenvolver esclerose múltipla do que aquelas que não fumam2-6. Sendo assim, o cigarro pode ser considerado como também um dos prováveis agentes ambientais que pode determinar o aparecimento da doença1,5.

Além da relação como agente causal da EM, foi estudado também como o cigarro pode afetar a progressão da doença. Para ficar mais claro, vamos fazer uma recapitulação das 3 formas principais de apresentação da EM3:

  • Recorrente-remitente (EMRR) ou surto remissão: forma que ocorre em 70 a 80% dos casos. Nesta forma ocorrem os surtos e em seguida há a recuperação total ou parcial dos sintomas causados por eles. A forma EMRR pode evoluir para a forma secundariamente progressiva (EMSP). 3
  • Primariamente Progressiva (EMPP): ocorre em 10 a 15% dos casos e atinge igualmente ambos os sexos em uma faixa etária mais tardia. As formas progressivas de esclerose múltipla são caracterizadas por piora neurológica contínua pelo período de pelo menos 6 a 12 meses, na ausência de um surto definido. É como se uma função, por exemplo, a força em uma das pernas, piorasse de forma lenta, um pouco a cada dia. Ou seja, nessa forma, a doença progride desde o início com velocidade variável. Há períodos de estabilização e discretas melhoras, mas não há surtos bem definidos.3
  • Secundariamente progressiva (EMSP): presente em 15 a 20% dos casos de EM. Quando o quadro inicial de esclerose múltipla surto-remissão evolui para uma fase progressiva, a situação pode ser definida como esclerose múltipla secundariamente progressiva. Na fase secundariamente progressiva da EM podem ocorrer, eventualmente, novos surtos com discretas remissões e estabilizações. Daí a importância de se avaliar, por um período de até 12 meses, o quadro clínico e a resposta ao tratamento antes que se possa concluir que de fato se está diante de um quadro de EM secundariamente progressiva.3 Estudos anteriores às terapias modificadoras da doença indicaram que 50% das pessoas diagnosticadas com a forma surto-remissão da EM poderiam evoluir para a forma secundariamente progressiva em 10 anos, e 90% poderiam fazer essa transição depois de 25 anos.7

Um estudo britânico sugere que fumar pode acelerar a transformação da forma recorrente-remitente para a forma progressiva da esclerose múltipla. Segundo o mesmo estudo, isso pode ocorrer por causa de uma substância presente na fumaça do cigarro chamada óxido nítrico, que ataca a parte do neurônio (o axônio) que transmite os impulsos nervosos e é protegida pela bainha de mielina, levando à sua degeneração ou ao bloqueio da condução dos impulsos nervosos. Além de presente na fumaça, o óxido nítrico pode ter sua produção induzida no sistema nervoso central pela nicotina.4

Um outro estudo mais recente também estudou a relação do cigarro com a progressão da doença e com a piora das condições de vida do portador. Os resultados mostraram que fumantes com esclerose múltipla acumulam mais incapacidades em um período mais curto de tempo e, em geral, sofrem de uma forma mais grave da doença do que os que nunca fumaram. O estudo também mostrou melhora significativa nos resultados dos participantes que pararam de fumar, mesmo depois da descoberta da doença, mostrando que faz diferença abandonar o fumo mesmo depois do diagnóstico.6

Sabemos que muitas vezes não é fácil lidar com uma doença como a esclerose múltipla e algumas pessoas veem no cigarro uma forma de aliviar a tensão e a ansiedade. Existem outras formas de alívio mais eficazes e benéficas para a saúde, que podem ajudar a lidar melhor com os desafios do dia a dia, como as terapias cognitivos-comportamentais, por exemplo8.

Se você é fumante, parar ou não, é uma decisão que só você pode tomar, mas isso não quer dizer que você esteja só. Busque ajuda, converse com o seu médico e com a equipe que apoia o seu tratamento. A sua saúde só tem a ganhar.

Referências bibliográficas:

  1. Associação Médica Brasileira; Ministério da Saúde/Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva; Aliança de Controle do Tabagismo. Evidências Científicas sobre Tabagismo para Subsídio ao Poder Judiciário. Projeto Diretrizes; 2013 [acesso em 13 abr 2016]. Disponível em http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/1ef15b0047df154c86dacf9ba9e4feaf/tabagismo-para-subsidio-poder-judiciario.pdf?MOD=AJPERES&CACHEID=1ef15b0047df154c86dacf9ba9e4feaf.
  2. FRAGOSO YD. Modifiable environmental factors in multiple sclerosis. Neuro-Psiquiatr., São Paulo, v. 72, n. 11, p. 889-894, Nov. 2014 [acesso em 13 abr 2016]. Disponível emhttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X2014001100889&lng=en&nrm=iso.
  3. Mendes MF, Morales RR, Tauil CB, Winckler TC (2012). In: Machado S. e colaboradores. Recomendações Esclerose Múltipla – Academia Brasileira de Neurologia, 1ª Ed. São Paulo: Omnifarma. Acesso em 13 abr 2016. Disponível emhttp://formsus.datasus.gov.br/novoimgarq/14491/2240628_109700.pdf.
  4. Hernán MA, Jick SS, Logroscino G, Olek MJ, Ascherio A, Jick H. Cigarette smoking and the progression of multiple sclerosis. Brain 2005 [acesso em 13 abr 16]; 128: 1461–1465. Disponível em http://brain.oxfordjournals.org/content/128/6/1461.
  5. Hernán MA, Olek MJ, Ascherio A. Cigarette Smoking and Incidence of Multiple Sclerosis. Am J Epidemiol 2001; 154 (1): 69–74.
  6. Manouchehrinia A, Tench CR, Maxted J, Bibani RH, Britton J, Constantinescu CS. Tobacco smoking and disability progression in multiple sclerosis: United Kingdom cohort study. Brain 2013 [acesso em 13 abr 16]; 136 (7): 1-7. Disponível emhttp://brain.oxfordjournals.org/content/136/7/2298.
  7. National Multiple Sclerosis Society. When the transition to SPMS occurs. Acesso em 13 jun 16. Disponível em http://www.nationalmssociety.org/What-is-MS/Types-of-MS/Secondary-progressive-MS/When-the-transition-to-SPMS-occurs.
  8. Spink MJP. Ser Fumante em um Mundo Antitabaco: reflexões sobre riscos e exclusão social. Saúde Soc. São Paulo 2010 [acesso em 13 abr 2016]; 19 (3): 481-496. Disponível emhttp://www.revistas.usp.br/sausoc/article/view/29664/31536.

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