Suplementação com vitamina b no alívio de sintomas da em: o que deve ser considerado?
Juliana Bueno | CRN-2 8.860/RS
Nutricionista Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional, Nutrição Esportiva Funcional e Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul)
A esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica, degenerativa e de caráter inflamatório, que acomete a bainha de mielina. Neste contexto, torna-se clara a importância do consumo de alimentos anti-inflamatórios, como açafrão da terra (também conhecido como cúrcuma), frutas vermelhas (morango orgânico, framboesa, amora, cereja), gengibre e brássicas (brócolis, repolho, couve, couve-de-bruxelas, repolho). Priorizar alimentos ricos em gorduras insaturadas também é fundamental, como as sementes oleaginosas (amêndoas, nozes, castanhas), azeite de oliva extravirgem, linhaça, semente de chia e abacate.
Estudos apontam que os ácidos graxos EPA (ácido eicosapentaenoico) e DHA (ácido docosa-hexaenoico) sejam importantes para formar adequadamente as membranas e reduzir o processo inflamatório da doença. Portanto, alimentos como sardinha, linhaça e semente de chia devem fazer parte da rotina alimentar destes pacientes. De acordo com a Nutricionista Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional, Nutrição Esportiva Funcional e Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), Juliana Bueno, para alguns pacientes está indicado o consumo de óleo de peixe livre de mercúrio.
A nutricionista conta também que a incidência da EM é maior em regiões de baixa exposição solar: “Isso se deve provavelmente ao déficit de formação endógena de vitamina D, que ocorre após a exposição à radiação ultravioleta B”, descreve. Esta vitamina interage com mediadores inflamatórios e com o sistema imunológico, protegendo o organismo. Além disso, acrescenta ela: “Tem sido observado que existem receptores de vitamina D no sistema nervoso central que regulam a produção de mielina pelos oligodendrócitos. Sendo assim, a suplementação de vitamina D pode auxiliar na redução da progressão da doença”.
Os pacientes com EM precisam evitar os alimentos que geram inflamação. Juliana argumenta que o açúcar refinado é um dos alimentos mais inflamatórios e, portanto, deve ser eliminado do cardápio dos portadores da doença. “Outro ponto importante é que muitos estudos comprovam que a alimentação rica em gordura saturada e em gordura trans altera a estrutura das membranas e favorece a entrada de antígenos na barreira hematoencefálica e/ou acelera a degradação da mielina”, explica. Os alimentos industrializados, que são ricos em gordura trans, como salgadinhos, biscoitos e margarina, e os alimentos ricos em gordura saturada, como manteiga, carnes, queijos amarelos e leite, também devem ser evitados.
A nutricionista lembra também que alguns estudos têm evidenciado que o consumo de alimentos com glúten pode estar ligado ao desenvolvimento da doença. “Hoje, conhecemos um processo chamado mimetismo molecular, e sabemos que ele está envolvido em muitas doenças autoimunes”, descreve. O mimetismo molecular é a incapacidade do organismo de diferenciar as proteínas próprias das que não fazem parte do organismo. Assim, ele passa a se proteger contra estruturas erradas, resultando em destruição de tecidos pelo sistema imunológico.
O consumo de alimentos com glúten provavelmente tenha sido relacionado com a EM em função do mimetismo molecular entre os antígenos alimentares e a sequência de aminoácidos da bainha de mielina.
O intestino é um elemento-chave no que diz respeito a uma série de doenças, e na EM não é diferente. Juliana o descreve como um órgão protetor, pois evita que elementos desagradáveis sejam absorvidos. “O problema é quando temos a disbiose, ou seja, quando o intestino possui mais bactérias patogênicas do que benéficas. Desta forma, o organismo perde a ação de seletividade e acaba absorvendo moléculas grandes, que serão reconhecidas como invasoras, desencadeando a inflamação e, consequentemente, piorando a doença.
A vitamina B12 é fundamental para a produção da bainha de mielina. Esta vitamina é sintetizada pela microbiota intestinal; portanto, mais uma vez fica evidenciada aqui a importância de cuidar da flora intestinal por meio de alimentos ricos em fibras e uso de probióticos, como Kefir, Kombucha e/ou suplementos. Além disso, os alimentos fontes de vitamina B12 são carne de gado, frango, ostra, ovos, queijos, alga marinha nori e chlorella. Portanto, é fundamental que a vitamina B12 seja dosada nos pacientes com EM.
O magnésio é um mineral essencial para a contração e o relaxamento dos músculos. Ele tem papel importantíssimo na redução da fadiga e das dores musculares apresentadas pelos portadores da doença. “Alimentos folhosos verdes escuros (couve, espinafre, rúcula), gergelim, brócolis, banana, repolho e cereais integrais devem fazer parte da rotina alimentar”, conclui Juliana.
Efeito da restrição calórica intermitente versus diária sobre as mudanças no peso e resultados relatados pelo paciente com EM
O controle de peso é um dos pontos-chaves quando se fala em cuidado com o processo inflamatório e controle da EM. A Nutricionista Juliana concorda que a perda de peso deve ser incentivada a estes pacientes, mas, ressalta que grandes restrições calóricas devem ser evitadas, pois muitas vezes há deficiência de vitaminas, minerais e fitoquímicos importantes para reduzir a progressão e os sintomas da doença. Retirar alimentos descritos como “calorias vazias”, ou seja, que não agregam benefícios nutricionais, e introduzir grande quantidade de alimentos anti-inflamatórios podem ser boas alternativas para que estes pacientes percam peso. A nutricionista explica que automaticamente o valor energético consumido reduzirá drasticamente e, em grande parte dos casos, esta ação já será suficiente para controlar o excesso de peso.
Referência
- Fitzgerald KC, Vizthum D, Henry-Barron B, Schweitzer A, Cassard SD, Kossoff E, et al. Effect of intermittent vs. daily calorie restriction on changes in weight and patient-reported outcomes
in people with multiple sclerosis. Mult Scler Relat Disord. 2018;23:33-9.
Revista NeuroExperts
Número 3 – Agosto 2018